Vem este manifesto a propósito de uma conversa de amigos onde se discutiam diferenças civilizacionais e se declaravam as maravilhas alheias que nós, europeus, admiramos.
Muito a propósito, acaba de ser divulgado um estudo de cientistas da Universidade de Berkeley (http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1443174) sobre o factor determinante na evolução da espécie humana: a generosidade. Não a lei do mais forte, como deduziram os seguidores de Darwin, não a competição nem a eliminação dos mais fracos mas, pelo contrário, a capacidade de proteger os mais frágeis. A guerra não é, portanto, uma contingência natural do homem, à qual temos de nos conformar mesmo que não gostemos dela. Foi, portanto, a cooperação (das mulheres na recolha de alimentos e na criação das proles e dos homens na caça dos mamutes) que garantiu a sobrevivência dos grupos e a transmissão dos genes daqueles que, tendo menos músculos, sabiam como voltar a acender o fogo quando ele se apagava ou sabiam contar histórias ao serão para afastar o medo dos animais selvagens.
A ideia de que há civilizações mais evoluídas do que outras e que, por serem mais evoluídas, têm alguma coisa a ensinar às outras, é uma ideia que a velha Europa ocidental ainda alimenta em segredo, cheia de vergonha de o proclamar em voz alta. Compreende-se. Por causa dessa ideia, justificada por razões que assentavam na lei do mais forte, praticou a Europa muitos males: conquistou, explorou, sujeitou à força, destruíu.
Mas voltemos os projectores para o novo factor determinante da evolução. Qual é a civilização que hoje mais protege os não musculados? Onde nasceu a declaração dos direitos do Homem e os da criança? Onde se reconhece às mulheres igualdade de direitos? Quem está mais à frente na protecção dos deficientes, dos animais, no reconhecimento dos direitos dos homossexuais? Onde se elege como valores fundamentais a igualdade de oportunidades, o direito a pensar e falar livremente, a igualdade do cidadão perante a lei? A resposta é clara: na Europa ocidental e nos seus filhos mais legítimos (Estados Unidos, Canadá, Austrália, Israel).
Outras civilizações fascinam hoje a velha Europa, pela sofisticação da sua arte, pelo exotismo das suas culturas, pela emergência do seu poder económico... E os europeus estão naturalmente cansados da sua velha casa, que lhes parece monótona e fora de moda. E sempre gostaram de viajar (doutro modo não teriam tantos filhos) e de ver paisagens diferentes. Por isso encantam-se com as modas da manga japonesa, do budismo indiano ou da dança do ventre árabe. Muito bem. Tudo isso são distracções divertidas. Mas nada me levaria a render-me de admiração por terras onde faltam os valores fundamentais que fizeram da civilização ocidental a mais evoluída e admirável do mundo.
Estamos longe da perfeição? Estamos. Mas também estamos na linha da frente para lá chegarmos. Temos um passado cheio de atrocidades? Temos. Mas enquanto elas são o passado de que nos envergonhamos, para as outras civilizações são o presente de que se orgulham. Nem sempre pomos em prática os ideais que proclamamos? Nem sempre. Mas não desistimos deles como ideais e lá vamos tentando. Temos muito de que nos orgulhar e as outras civilizações muito que aprender connosco.