Mal despontava o séc.XIII quando a Isabel nasceu, em terra dos magiares, filha do rei da Hungria. Preparava-se então cedo o futuro das meninas e ao rei André pareceu bem reforçar os laços do seu pequeno reino com os poderosos senhores germânicos, por isso tratou logo de acordar o casamento da menina princesa com o herdeiro da Turíngia (Alemanha).
Feito o pacto, ainda só com quatro anitos, lá vai a Isabel para a corte de Herman I, em Wartburgo, para ser educada pela futura sogra, Sofia. A menina era doce e a Sofia tratou-a como uma filha, de modo que aquele era o regaço de que se lembrava quando pensava na mãe. O pequeno Luís, seu prometido, puxava-lhe pela mão nos jardins do palácio, para a proteger do irmão, Henrique, invejoso e de maus fígados. Brincavam os dois não sabemos a quê mas é de crer que aprenderam juntos muitas coisas que não quereriam que nós soubéssemos. O amor que os uniu toda a vida cresceu com eles.
O Luís e a Isabel casaram em 1221, tinha ela 14 anos. Ao contrário dos senhores da época, o Luís não teve filhos fora do casamento e olhou sempre para a Isabel com admiração, mesmo quando ela queria fazer coisas que as outras senhoras não faziam. Deu-lhe inteira liberdade para agir, dotando-a de uma renda que lhe permitiu assumir a sua vocação para a assistência social: a Isabel estendia a mão aos pobres, fundou um hospital e criou meninos órfãos. Quando os ia visitar levava o regaço cheio de brinquedos e o povo chamava-lhe Mãe dos Pobres. Seus, teve três filhos.
Em 1226, na ausência do Luís, ocorreu um terrível período de fome. Sem hesitar, a Isabel mandou abrir os celeiros reais e distribuir todo o pão aos famintos.
Em 1226, na ausência do Luís, ocorreu um terrível período de fome. Sem hesitar, a Isabel mandou abrir os celeiros reais e distribuir todo o pão aos famintos.
Em 1227, tudo mudou. A peste, a terrível peste, matou o Luís. Sem a sua protecção, a Isabel e os seus filhos ainda pequenos ficaram à mercê da cobiça do cunhado Henrique. Foi expulsa da corte, despojada do dote a que tinha direito. Encontrou-se com a lama dos caminhos da Turíngia. Abandonada pelos grandes, pediu esmola entre o povo, para si e para os seus filhos, e dele recebeu o que ainda havia do pão do seu celeiro. Ao fim de um ano, foi recolhida por um tio, bispo de Bamberg, que resolveu dar-lhe a utilidade que se dava às mulheres jovens: voltar a casar. Mas a voz do Luís ainda no peito não a deixou obedecer.
Com a intervenção do papa, a Isabel conseguiu recuperar o dote e usou-o para construir um hospital em Marburgo, onde viveu o resto da sua vida tratando dos doentes e dos pobres. Em 1231, com 24 anos, partiu ao encontro do Luís. Em 1235 foi proclamada santa. Anos mais tarde, um franciscano da Toscânia escreveu-lhe uma biografia e, querendo exprimir de forma poética (como os franscicanos gostam) a beleza do espírito transformador de Isabel, inventou-lhe o milagre das rosas.
Sim, o mesmo milagre das rosas que, muitos anos mais tarde, foi atribuído à nossa Rainha S.Isabel. Eram tia e sobrinha. Isabel da Hungria era irmã da avó da nossa Isabel. A esta, o nome foi-lhe posto em honra daquela tia-avó, que morava na memória de toda a Europa como a Mãe dos Pobres. A Isabel de Aragão cresceu a ouvir falar nela e imitou-lhe o exemplo de vida. Não teve a sorte de crescer amantemente com o futuro marido, que nunca lhe foi leal nem amoroso. Mas pôde ao menos trazer para Portugal o gesto de estender a mão aos pobres. Era um bocadinho do coração da Isabel dos alemães que vinha morar no coração dos portugueses, guardada no coração da Isabel de Aragão, a que costumamos chamar nossa.