Houve tempos em que as histórias se contavam para proveito e exemplo dos que as ouviam. E havia uma que ensinava aos jovens mancebos como deviam precaver-se das mulheres, seres de desconfiar porque há nelas uma maneira de lhes atalhar o raciocínio que os deixa sempre sem palavras. E reza assim.
Era uma vez um rapaz que queria casar. E como era jovem prudente e avisado, antes que casasse, foi pedir conselhos a um velho sábio. E o velho disse-lhe:
Era uma vez um rapaz que queria casar. E como era jovem prudente e avisado, antes que casasse, foi pedir conselhos a um velho sábio. E o velho disse-lhe:
- Cautela, meu filho, com as mulheres! Farás assim: manda construir uma torre mui alta e estreita e só com uma fresta por onde entre a luz e só uma porta de que guardarás sempre a chave. E, logo que cases, fecha a tua mulher dentro dela e não a deixes sair nem convides nunca visitas para a tua mesa.
O rapaz assim fez. A mulher, logo que viu o sítio onde ia morar e o viu sair de manhã e levar a chave que trancava a porta, encostou um banquinho à parede e assomou à fresta. E, quando o marido não estava, passava todo o seu tempo na fresta, a ver quem passeava na rua. E ali viu passar um mancebo mui formoso que se pagou do seu bom parecer e todos os dias conversavam naquela fresta.
Percebendo ela que dali lhe poderia vir a morte, correu para junto de um poço que estava perto e disse-lhe:
O marido, que não via nada porque estava escuro mas ouviu o barulho da queda, com medo de ser responsabilizado pela morte da mulher saíu da torre a correr para a salvar. Assim que ela viu a porta aberta, correu para dentro da torre, trancou a porta por dentro, subiu para a fresta e gritou-lhe:
A mulher começou a pensar como conseguiria chegar à chave e, vindo o marido à noite, ela tratava-o mui bem e dava-lhe comida salgada e muito vinho sem restrição. E, logo que ele caía de sono, ela tirava-lhe a chave e saía da torre a ver o seu amigo. O marido, que era prudente e avisado, começou a estranhar o bom trato da mulher e o vinho que ela lhe dava e um dia fingiu que bebia mas deitava fora o vinho e fingiu que adormecia e deixou-a tirar-lhe a chave. E logo que ela saíu, ele trancou a porta por dentro e pôs-se na fresta à espera dela.
- Ó má mulher! Nem fechada numa torre tu deixaste de achar modo de fazeres teus enganos? Ficarás aí fora e, quando for manhã, mandarei chamar os teus parentes e lhes direi que má mulher tu és e como saíste de noite a pecar com um qualquer!
Percebendo ela que dali lhe poderia vir a morte, correu para junto de um poço que estava perto e disse-lhe:
- Antes que isso faças, eu me atirarei neste poço e tu darás conta da minha morte aos meus parentes!
E agarrou numa grande pedra e atirou-a para dentro do poço.
O marido, que não via nada porque estava escuro mas ouviu o barulho da queda, com medo de ser responsabilizado pela morte da mulher saíu da torre a correr para a salvar. Assim que ela viu a porta aberta, correu para dentro da torre, trancou a porta por dentro, subiu para a fresta e gritou-lhe:
- Ó mau marido! Amanhã mandarei chamar os meus parentes e vou mostrar-lhes como tu passaste a noite fora, como fazes sempre, a dormir com as más mulheres, e me deixas aqui sozinha nesta torre. E eles te acusarão e me levarão de volta para a minha casa!
Moral da história: Se te vires numa torre de pedra, procura outra para atirares a um poço.
Moral da história: Se te vires numa torre de pedra, procura outra para atirares a um poço.