sábado, 9 de fevereiro de 2008

Acordada e Regressada


O Tempo, aquela rede por cujas malhas queremos escapar-nos, recorta-nos a vida. Mostra-nos constantemente os quadrados em que devemos correr pela sobrevivência, ganhar o pão com manteiga, pagar a dívida à espécie. Cada desenrolar da rede só tem 24 quadradinhos, quase todos já previamente etiquetados. Felizmente que uns sete ou oito estão reservados à experiência sublime - ainda que efémera - da escapadela pelas malhas dos quadrados. Aí as malhas são fofas como algodão doce, suaves e disparatadas, e deixam-nos escorregar e ficarmos a baloiçar-nos nelas.
Era onde eu estava até há pouco tempo.


Até que a Nnanna - querida amiga! -
preocupada com a minha excessiva sonolência, resolveu acordar-me, pedindo-me no final de A Pedra, delicada mas insistentemente, que regressasse.










Não foi nada fácil fazer-lhe a vontade!


Senti-me como uma nobre e ilustre personagem, afeita às maciezas da vida, que fosse por alguma partida do destino de repente obrigada a olhar de frente os duros contornos da realidade.









Foi uma coisa repentina.
Fiquei entalada num dos quadrados da rede.















Presa ainda entre o lá e o cá, indecisa sobre para que lado é que havia de saltar, hesitando em regressar e não regressar.
















É que a viagem por entre as malhas da rede tinha sido particularmente paradisíaca. Tinha tudo o que se pode desejar para uma vida feliz:












Espreitava para um dos lados e via a rede com as malhas sobrelotadas.
Do outro, continuava tudo azul flutuante.







Via o regresso pesado e cheio de agrestes exigências. Coisa mais para heróis.
















Mas fiz um grande esforço! Temperado com café forte que, pouco a pouco, me devolveu o sentido do dever.




Obrigada, Nnanna, por me recordares de que depende o encanto da vida!











Já me sinto outra, acordada e regressada para as laboriosas tarefas do dia-a-dia, para as alegrias da existência entre as malhas da colmeia.
Vai um potezinho de mel ?