sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Hamsa


Esta é a mão de Fátima. Fátima Zahra (a luminosa), a filha preferida do profeta Maomé e da sua primeira esposa, Khadija. Não sei o que pensavam as outras filhas e as outras esposas desta preferência e acredito que ao pai e esposo tal coisa não tiraria o sono. Um homem deve ter várias esposas e tantos filhos quantos puder.

No entanto, há talvez sentimentos profundos, comuns a todos os homens, que nem as mais severas revelações de Deus conseguem apagar.

Fátima foi casada pelo pai com Ali ibn Abi Talib, que se tornou o quarto califa. Houve dois outros rapazes, Abu Bakr e Omar, que foram recusados por Maomé quando a pediram em casamento. Estariam todos três apaixonados por ela ou cobiçariam apenas a honra de serem genros do profeta? E ela? Qual dos três teria escolhido, se tal liberdade lhe tivesse sido dada?

De entre as irmãs, só Fátima teve filhos e isso foi, certamente, uma bênção de Alá. Mas o seu casamento com Ali foi profundamente infeliz. Parece que Fátima tinha as suas próprias opiniões e às vezes discutia com o marido. O pai profeta intervinha sempre em favor da filha e esforçava-se por reconciliá-los. Talvez Ali sentisse que precisava de uma mulher mais dócil, por isso pensou em procurar uma segunda esposa, como o seu sogro recomendava. Curiosamente, apesar de ele próprio ter várias, Maomé impediu o genro de usufruir dos prazeres da variedade nocturna, dizendo-lhe:

- Fátima é parte de mim e quem a ofende ofende-me a mim.

O Ali deixou-se de ideias. Nesta parte da história acho o Maomé mesmo simpático. O que me custa a perceber são as suas contradições. Afinal as mulheres muçulmanas sentem-se ofendidas por terem de partilhar os maridos? Afinal os pais muçulmanos também têm vontade de defender os sentimentos das filhas? E porque é que esse privilégio só foi concedido à filha do profeta?

Fátima é vista pelos muçulmanos como Maria pelos cristãos. Mulher, mãe e filha perfeita, ela é o modelo do comportamento feminino. Herdou também muitos dos atributos das antigas divindades femininas semitas (daí o ser luminosa) e por isso a sua mão (hamsa) protege contra o mau-olhado e é usada como talismã, tal como a mão de Miryam (irmã de Moisés) entre os judeus.

Quando passeamos pelas nossas terras (sobretudo a sul) encontramos muitas vezes portas com batentes em forma de mão, às vezes delicada como a do post anterior, às vezes mais normalizada:


Encontramos também muitas aldrabas, em forma de mão estilizada, como esta:




Pensamos provavelmente que a forma de mão alude ao facto de serem objectos onde pomos a nossa mão ou que substituem a nossa própria mão a bater à porta. Nada mais falso. Os batentes em forma de mão e as aldrabas foram trazidos pelos mouros e não são mais do que hamsas com que pretendemos afastar o mau-olhado das nossas casas.
No norte de África há portas onde se vêem duas aldrabas, embora seja óbvio que só uma chegava bem para bater à porta:




A espessura de cada uma é diferente e por isso produzem sons diferentes. A da esquerda é para as mulheres e a da direita para os homens. Assim, quando alguém bate à porta, sabe-se logo se é um homem ou uma mulher e evitam-se os graves inconvenientes que podem resultar de uma mulher da casa ir abrir a porta a um homem de fora.
Espero que haja por lá muitos jovens apaixonados que tenham suficiente imaginação para usarem a aldraba da esquerda quando querem ver as suas amadas. Aposto que Fátima, onde quer que esteja, os compreenderá e lhes enviará a sua benção.







domingo, 24 de janeiro de 2010