sexta-feira, 16 de maio de 2008

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Enfim, o regresso!
Pousaram-me hoje, às primeiras horas da manhã, ainda o sol não tinha nascido. Viajámos durante a noite e por isso não pude apreciar a paisagem durante o caminho. Estava escuro e aproveitei para dormitar mais um pouco.



Estava bastante cansada da estadia prolongada em terras estranhas.
Mal eu sabia, quando empurrei o gato para o lado e me instalei confortavelmente sobre as páginas do livro para descansar um bocadinho, o que me esperava. Em poucos minutos, a luz verde do candeeiro foi aumentando de tamanho. Julguei que já estava a sonhar. Mas não. Senti-me logo a seguir elevada no ar como se estivesse a ser puxada por um aspirador gigante.


Lá do outro lado, as coisas não eram muito diferentes. Talvez no tom mas não na essência. Passámos umas semanas agradáveis. Fiz bons amigos.
Lá não é proibido fumar em locais nenhuns e já resolveram o problema do cancro do pulmão. Toma-se umas pílulas cor-de-laranja todos os dias e resolvem-se vários problemas de uma vez: eliminam toxinas, cancros, excesso de açúcar no sangue e baixam a tensão arterial. E sabem a tangerina.
Estão a desenvolver rapidamente o sistema de teletransporte, apesar de enfrentarem alguns problemas com os funcionários das agências de viagens, que têm feito manifestações de protesto e ameaçam emigrar massivamente para cá, diminuindo drasticamente o número de contribuintes fiscais. Ainda não encontraram uma alternativa eficaz ao fisco. Mas têm desenvolvido estudos nesse sentido. Queriam saber como é que por cá tratávamos do assunto e ficaram muito desiludidos com o que lhes contei.



Perguntaram-me pelo Aldous. Primeiro não os percebi mas depois explicaram-me que o levaram lá de visita aqui há uns bons anos mas que não tinham gostado muito dele. «O Huxley?», perguntei. «Esse mesmo !», responderam. Parece que era muito indiscreto e queria saber tudo o que eles planeavam para o futuro, mesmo os planos mais secretos. Então resolveram divertir-se um pouco e contaram-lhe umas tretas sobre produzir populações fabris em série dentro de provetas, com umas gotinhas de álcool para não serem demasiado inteligentes. Parece que o Aldous acreditou.
Não gostei do clima. É muito cinzento e a mim faz-me falta o sol. As esplanadas não têm graça nenhuma e os pedidos fazem-se num terminal de computador que existe em cada mesa. Convidei-os logo para virem uma noite destas aos fados de Alfama e ficaram entusiasmados.
Expliquei-lhes que os pastéis de bacalhau com arroz de feijão temperados com tinto da casa são muito melhores do que os filetes de fitorrinomanso com salada de alvéolos acidificados que por lá servem. Mas o tokie que eles bebem é muito bom, isso vos garanto. Não quis perguntar de que é feito para não parecer mal educada mas pareceu-me uma coisa de alta qualidade.
Bem, estou cansada. Foram dias muito cheios.
Com a sensação de como é bom, apesar de tudo, o regresso ao lar e às coisas familiares, fiquei a acenar-lhes enquanto os via teletransportarem-se para longe.
Despediram-se prometendo que andarão por aí.