
Visitei solitários que tinham começado primeiro do que eu. Conversámos ao cair da tarde sobre a verdade e o bem, sobre a justiça e a beleza, perguntando uns aos outros pelo lugar onde se escondem, nesse tom grave e sério em que se exprimem os sábios e os filósofos. Recapitulámos lições, trouxemos à memória grandes ditos, reflexões maduras e profundas que os livros explicam em palavras continuamente reinventadas. Prossegui no deserto.
Vinte dias depois, encontrei uma inesperada flor. Com certeza por acaso ali nascera, pequena e solitária. Sentei-me perto dela e escutei.
Com a voz muito fina e aguda que se pode esperar de uma flor respondeu às minhas perguntas: desde que nascera que contemplava o céu. Achara-o verdadeiro, bom, justo e belo. Perdera-se de admiração, não dera pelo tempo passar.
Um dia um pedacinho de céu caiu. Mesmo ali. Perto do seu caule. A flor olhou e viu que o céu era só transparência, nada mais do que isso. Parecia ser o que ela quisesse, conforme o que visse do outro lado da transparência. O que era verdadeiro, bom, justo e belo não era o céu, era o desejo que a flor tinha de verdade, bondade, justiça e beleza. Cresceram-lhe folhas, encheu-se de sementes. Ia agora entrar no tempo em que se abriria a deitá-las por terra, antes de murchar. Não se sentia triste por isso. Sabia bem que em todas as coisas há um pouco da transparência do céu e que o problema de procurar não é afinal senão o problema de atribuir.